José Maria Chapina Alcazar
Chegou a hora de redobrar a atenção aos
controles internos da empresa, investir em profissionais
qualificados e repensar a contabilidade como instrumento
de gestão. Prestar contas ao Fisco com foco
unicamente no cumprimento de obrigações com
a Receita Federal é, convenhamos, um pensamento
ultrapassado. Com a intensificação da
fiscalização, torna-se imprescindível
considerar o conjunto da organização e não
mais a contabilidade como um departamento isolado dos
demais.
Quando o governo implantou o Sistema Público de
Escrituração Digital (SPED), em janeiro de
2007, iniciou-se um processo de modernização
da fiscalização nas empresas em todo o
Brasil. No princípio, quando apenas os grandes
contribuintes eram enquadrados, já se notava o
ganho econômico para a máquina pública,
a partir da eliminação de documentos em
papel e o não deslocamento de fiscais e auditores
até as organizações. Todo o processo
passou a ser feito eletronicamente. Os altos
investimentos em tecnologia têm sido feitos para
que, em futuro próximo, não seja mais
necessária a presença do fiscal nas
empresas, independentemente do porte da organização.
A Receita Federal mantém sua base de dados
sempre atualizada acerca das transações de
cada contribuinte no mercado e, por este motivo, requer
tratamento qualificado por parte das empresas quanto às
informações corporativas. A falta de
cuidados pode acarretar grandes prejuízos, pois
qualquer inconsistência na declaração,
seja por erro administrativo ou por operação
viciosa de transação, pode ser detectada.
Atrasos ou omissões na entrega da declaração
acarretam multa de R$ 5 mil por mês ou fração.
Inserido no Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), o SPED veio para unificar as
atividades de recepção, validação,
armazenamento e autenticação de livros e
documentos que integram a escrituração
comercial e fiscal das empresas. Representou para o
governo federal um avanço nas relações
entre o Fisco e os contribuintes, já que antes do
SPED, muitos impostos deixavam de ser recolhidos. O
sistema que começou com três grandes
projetos SPED Fiscal, SPED Contábil e NF-e evoluiu
e agora recebe mais um integrante na guerra contra a
informalidade e a sonegação, a Escrituração
Fiscal Digital do Pis e Cofins (EFD-Pis/Cofins).
O novo sistema eletrônico vem para atender ao
cumprimento, por meio da certificação
digital, das obrigações acessórias
nas três esferas tributárias e abrange os
setores da indústria, comércio e prestação
de serviços. O objetivo é dificultar o uso
de créditos originados de operações
não previstas expressamente em lei ou instrução
normativa da Receita Federal.
Com a novidade, apenas a Dacon, obrigação
que controlava o Pis e o Cofins, foi eliminada. Sempre
que o governo anuncia inteligências eletrônicas
como esta, gera a expectativa de que haverá
revisão de obrigações acessórias
muitas vezes redundantes entre si. Na prática,
porém, as obrigações convencionais
são apenas somadas às declarações
digitais. Pela complexidade e quantidade de informações
exigidas no novo sistema, outras obrigações
acessórias entregues atualmente por meio magnético
também poderiam ser substituídas.
Não obstante, é preciso levar em
consideração o esforço do governo
para reduzir a informalidade no país. A partir do
cruzamento de um número cada vez maior de
informações e sem criar outros impostos, o
que não seria bem vindo pelo contribuinte,
torna-se possível ampliar a arrecadação.
A consequência é que, com monitoramento mais
intenso, o agente informal não tenha alternativa a
não ser regularizar a empresa, sob pena de multa.
Por este motivo, é urgente que micro, pequenas
e médias empresas se preparem o quanto antes para
as novas ferramentas, pois os olhos da Receita Federal
recaem sobre um universo cada vez maior de organizações.
Com o SPED Fiscal Pis/Cofins, o governo passou a ter, a
partir de 1º de abril deste ano, o controle de todos
os contribuintes que se utilizam de débitos e
créditos nas suas transações, sejam
comerciais, industriais e de prestação de
serviços. Até junho, mais de 10 mil
empresas, cuja receita bruta anual ultrapassou R$ 90
milhões em 2009, estarão sob vigilância
eletrônica do Fisco, número que em janeiro
de 2012, chegará a mais de 1,5 milhão.
Investir na profissionalização da
contabilidade, bem como na gestão da empresa, é
uma demonstração de maturidade e
consciência empresarial. É preciso estar
atento às normas internacionais de contabilidade,
que se fazem cada vez mais importantes e presentes no
cotidiano das organizações.
José Maria Chapina Alcazar, empresário,
é presidente do Sindicato das Empresas de Serviços
Contábeis e das Empresas de Assessoramento,
Perícias, Informações e Pesquisas no
Estado de São Paulo (Sescon-SP)
Fonte: Gazeta Digital Os artigos aqui apresentados
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